domingo, 31 de janeiro de 2021

Passe

Quando percebemos o passado, a nossa frente, tão real quanto um dia o foi... podemos afirmar que já não estamos mais (no) presentes. 

Esses são momentos os quais parecemos que estamos vagando, em qualquer uma das realidades cabíveis, mas que não essa - como um mero fantasma, à deriva. 

Sentimos, introjetados, intrusos, não mais intrínsecos do próprio ser. 

É como se uma parte não estivesse mais presente - como se o real se cindisse em (mais de) dois.


... talvez esse seja um claro nuance de que existe algo além da carne, da matéria sólida, da nossa solidez. 


E isso, na verdade, não é um problema. 

É um dos poucos momentos que conseguimos nos entregar a vida, se permitir ao destino. 

Momento no qual conseguimos fechar os olhos e simplesmente sentir - como se estivéssemos meditando - um outro contexto, um outro apreço. 

Nos encontramos preparados, entregues. Para o que vier. E também para o que der. 

Um breve influxo, de respiração. Uma ainda mais breve, exoneração (liberação?) de consciência. 


São nesses momentos de rebalanço que o equilíbrio se mostra além ... do entendimento, de um caminho, de um desejo. 

É como um empuxo que você não vê, mas que está lá - te atraindo de alguma forma, que as vezes você nem mesmo, a si, se sente. 

É um fluxo (in)comum que te afeta; e você se deixa afetar. 

É o esvaziar; que também esvazia de você toda percepção de finalidade das inúmeras incursões mundanas - pessoas, propósitos, pátrias e permissões. 

É o que te permite...

...um encontro com o nada - que faz muito mais sentido que tudo.


E isso molda você. 

Te faz diferente. 

Te torna alheio.

Te arrefece. 

Te volta. 

Toma.


Cabe, agora, preencher o vazio. 

Se reconfigurar. 

Re adaptar.


Não existe um movimento o qual não se repita - assim como não existe futuro sem passado. 

 


Torna-te terráqueo, para aqui viver. 

Viva em outro plano, para não recusar a realidade que teu corpo o permite. 

Ele é seu invólucro, seu recipiente, e é tudo que você tem que permita essa experiência. 

E apesar, de todos os pesares, é a única, que podemos viver, agora

E é o que importa.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

(em)Quadro

O Prazer de cada dia está nas pequenas coisas que insistimos em apreciar. 

A beleza às vezes nos transparece de forma tão simples, que uma ação já nos coloca em um outro estado. 

Não estamos mais aqui, presos a finitude do instante. Nos transportamos para a eternidade do presente.


Seja no café amargo, na face do cão que se estende pelo chão, na página de um livro qualquer, no horizonte o qual o sol se põe - são nesses quadros triviais que presenciamos a verdade que podemos encontrar da vida. 

Tudo é tão vívido, tão real, tão sensorial e tão satisfatório que as questões - pessoais, científicas, filosóficas, o que seja! - adquirem outro fundo; já não mais interessam como sempre interessaram; já não significam o que significaram. 

É quase um estado de meditação, diante do fortuito que é estar (no) presente. 

É uma quase transe, uma plenitude finita, momentânea, mas que (se permitimos) recarrega cada canal do nosso Ser.

(É o que nos conecta a esse mundo...)

É o que nos permite continuar, mesmo sabendo que todos caminhamos para o mesmo fim


Afinal ... quando é que importou onde vamos chegar


Nos entreguemos a cada momento no qual possamos desfrutar os raios da vida que preenchem o panorama da nossa visão. (Eles estão lá! Brilhando!) Contemplemos. (Pois) Estamos, de facto aqui. Façamos parte.  


Si...

Nem tudo é um sonho, mas há uma quimera ali, logo ao canto ...  tenho (quase) certeza.

😄

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Si

Hoje nos perguntamos:

Esse é o começo do fim, ou o fim do começo?

Mas isso é algo que involuntariamente questionamos a cada dia, a cada hora, a cada segundo... 


É claro, bastante obvio. Que falaríamos tal frase depois um ano desses (ou poderia ser a qualquer ano?) !


Defronte a cada perspectiva temos uma posição não necessariamente bem estipulada. 

E tudo isso varia de acordo com a hora, momento, vida que v(iv)emos. Mas...

Quando é - que acontece, ou vai acontecer - um turning point? 


Insisto em apontar para essa experiência que alguns de nós tivemos esse ano. 

De ver a incerteza como algo certo.

De encarar o fim como um começo. 

De ver finalizado qualquer começo que investimos. 


De, perceber a vida como algo etéreo, único! Como algo banal que não tem nenhum significado. De nos percebemos como parte, mas nos alejarmos como única unidade. 

De contradições. Revelações.

De partilhar! De desistir...

De acreditar. De ... refutar.


Se a tudo isso, à alguém nada mudou... 

Definitivamente, os esperam algo, em algum momento, em alguma vida, em qualquer circunstância que seja, para que essa prova os possa ser provada. Pois... há de ser muito terreno (ou primodial!), para não perceber que talvez exista alguma outra parte que a própria definição de supercialidade alcunhe a partir d(e)o todo dessa situação.

Que a definição que (o) seja! 

Que a mudança tenha sido pelo menos de perceber a importância da convivência diária em suas vidas! 

(Mas, será que de fato existe uma mudança em alguém que insiste em não proceder de acordo com uma nova percepção?) 


Eu, vago que sou, talvez não acredite em uma percepção coletiva.

Em uma esperança de mudança de atitude. 

Em um tempo melhor, que provavelmente nunca veio. 


Não posso projetar qualquer objetivação perante o mundo...


Mas isso também não impede que eu me permeie, me conjuge, me complete e me replique. 

Diante e perante a cada situação de vida que o "destino" ofereça. 


Não sou bom, e provavelmente não serei. Mas me esforço em ser ao menos aceitável com aquilo que é aceitável para mim. 

Isso vem de alguém que um dia teve muito a oferecer, e que talvez tenha algo ainda guardado para alguma oportunidade aleatória que se ofereça. 


As trivialidades não nos deveriam nos interessar mais. A não ser que sejam de (v)nosso interesse. 

As lutas não fazem sentido; se elas de fato não te percorrem e te pertecem. 

O infinito se encontra na finitude dessas nossas vidas, que loopeiam desde o primórdio humano nessa Terra. Quero dizer; tudo sempre foi a mesma coisa, e essas sempre foram as mesmas questões - e enquanto persistir esse plano, provavelmente o será. 


Diante dessa conjuntura:


Nao consigo inferir se estamos presos, ou em meio a uma plena dádiva. 

Se existe algum sentido, ou não. 

E mais, me pergunto, se esse sentido deveria mesmo existir! 

(pode ser que tudo seja muito mais simples...)



Manchmal, nada importa. 

Mas às vezes, isso é tudo. 

E o que temos, senão essa lógica brusca, nada racional do momento que é presente? 


É exatamente como iniciei. 

O que define - fim, começo, continuidade - senão o movimento? 



Ah, nossa condição... 

Perpétuos no entremeio das linhas de um falso tempo que se desenha em uma massa visceral...

(sendo que tudo pode ser tão belo e novo a cada imagem que se apresenta...)



Impedição. 

Propagação. 

Não há dúvidas que tudo - e o todo - just be.