terça-feira, 7 de novembro de 2017

Pudera

O frio que me gela
Faz parte da solidão que me cerca

Se um dia havia alguma vontade
Hoje somente permanece a realidade
Voraz, contumaz; plana e irresponsiva

Dos momentos bons que  houveram
Restam as memórias
Que já não se fazem capazes
De sustentar o ser sintético
Pois não há mais caminho para viver
Sem soluções que sejam temporárias

Os portos seguros de uma antiga vida
Não mais são seguros;
nem sequer portos

Eles ajudam a construir a situação insustentável
de alguém que não consegue
sair do mesmo lugar,
Pois mesmo que alguma trilha possa ser traçada
os caminhos estão mais obscuros do que nunca
estiveram...
Onde estão?

Estive.
Estou.
Estarei.

Perambulando, parado
Num paradigma de possibilidades não concretizadas

E...

Começar de novo...
algo que sequer iniciou é uma perversa piada
que posterga o que tempo para a tão conhecida indefinição

Não há mais como estar;
Os pequenos pontos de apoio
Já se foram
E você não pode nem contar,
como também
não consegue mais amparar

Talvez a nada...nem a ninguém...
Tampouco a si mesmo

Dita as horas. Os dias.
O quê mesmo?

De hoje em um quê de diante não determino
Nada. Nada mais.

Proceder sem procedimentos...
Providenciar a própria providência...

Só não sei mais...
O que fazer...?

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Daily Li(f)e

A vida diária não passa de uma mentira que contamos a nós mesmos para continuarmos (ou tentarmos) - sãos; em meio a tudo. Em meio o nada.

Como aceitar que o tempo se passa e não o vemos?
Como acreditar que tudo aquilo que se passou já é algo que nem mais sentimos?
Como refutar que os sentimentos mais intensos em nós mesmos não fazem mais parte da nossa diária vida?

Os "bons tempos" sempre foram outros, independente de quando vivemos - talvez eles não tenham sido tão bons assim, àquela época...

Por quê será que não conseguimos vivenciar a felicidade no momento em que vivemos?
A fluidez do momento nos impede de enxergar aquilo que realizamos?

Nada é tão ruim que não possa ficar pior...
Mas, por quê o bom momento de nossas breves vidas não pode perdurar?

Um breve questionamento, uma pequena reflexão pode ser capaz de pôr tudo a perder - por quê de fato estamos aqui e fazemos disso um único fato?

Estar desperto para entender que o algo a mais deve ser o que se faz; compreender que o caminho é o que importa; evitar as insensatas utopias; tudo isso pode fazer com que a nossa mentira diária se torne ao menos um pouco mais de verdade. Enfim, é algo a fazer. Tentar criar em em nossa mente algum fluxo verídico de vida, o qual de fato vivenciamos, é um difícil procedimento de reconhecer que "ser" e "estar" fazem parte de um processo de percepção daquilo que realmente importa (ou deveria importar).

Por entre esse dilema transcorrem os fatos, os dias, a vida... e percorrer essa passagem é um rito diário que deveria ser composto mais de menos, mas que esse menos possa ser de fato; algo.

Algo - sem regras - para conceber um ritmo rotineiro que desconsidere soluções.
Afinal, etapas, sejam elas quais forem, irão se suceder até um momento que as não consideraremos mais - seja por uma eventual finitude ou o emaranhamento de (as) situações...

Somente tenho algo mais a dizer:

(que) Seja.

TransVer

As vezes enxergo no rosto das pessoas passagens de livros - detalhadas descrições de uma personalidade abstrata que se configura por uma ação não necessariamente ativa vinda de cada uma delas.

Transfiguro passagens - "me reío" das situações. Como se houvesse um mar de páginas que transcorrem na minha cabeça; como se tudo que eu estivesse vendo já houvesse sido escrito, ou ao menos 'redigido' em minha mente. Não um deja vu, mas algo... já natural, o qual não expressa nenhuma nova particularidade.

É uma situação pra lá de engraçada... vejo personagens de uma vida que, para mim, é tão real quanto parágrafos manuscritos há décadas - eles estão dados, e... eu, bem... nem sei se sempre os vivencio quando os encontro.

São dias. Horas. Segundos.
De... re-imaginação.
Das páginas que se apresentam e se fecham sem quaisquer continuidade; as quais eu já nem mais as percebo, nem mais as descrevo... elas correm. Se sobrepõem... e, bem, tudo - novamente - se configura como nada no cerne da minha (in)percepção.

Estar (e) ou não estar já não faz mais tanta diferença (nesse mundo [tão irreal])...